telefone.

Às vezes, algumas coisas realmente mágicas acontecem e, simplesmente, mudam a cor do nosso dia. E não importa o quanto tentemos explicar ou expressar nossa sensação em tais momentos, nunca conseguiremos causar o mesmo efeito que sofremos, nos outros.

Cada segundo é único e, cada primeira vez só acontece uma vez (relativamente).
E eu, que sempre te olhei, percebo que não te via, enquanto você me observava.

 Essa última parte pode não fazer muito sentido a quem lê, mas não faltam sentidos a quem vos escreve.

So kiss me...

E ela, tão romântica, tão antiguista, tão cheia de pó de arroz e rímel borrado, nunca deixará de sonhar com a velha infância, com casamentos caipiras e cabanas no meio da sala de estar. Talvez a crueza e crueldade do seu punk, a libertinagem livre e woodstockiana do seu rock, não se encaixem nos sonhos dela, que tem a mente livre, mas o coração eternamente preso às rosas secas e sem perfume, no meio da sua agenda de anotações, que ao invés de compromissos, marca sonhos que nunca serão sonhados acordados. Esse seu tom até é divertido, diferente, mas não é pra ser ouvido todos os dias, como aquela melodia suave que se encaixa perfeitamente em qualquer momento. Faz falta gritar e cantar e pular, acenando ao vento com os braços, balançando o cabelo. Mas é preciso sintonia, melodia, não acordes dispersos que não tem nexo. É preciso agitar-se gradualmente, de um beijinho doce, inocente, de cartões apaixonados e bilhetes na geladeira, até noites de paixão caribenha e lambada efervescente. Não há como, perante tamanha melancolia, acompanhar o seu ritmo tão realista, cheio de cinza de cigarro e azul de frieza. De tanto drama e depressão, roxos e vinhos e vermelhos que escorrem pelos braços, ela só queria o azul clarinho do lençol, um abraço suave, mas sem culpa, sem pensamentos, só paz.

Acho que é isso, descobri! Estou tão coberta de realidade, tão sufocada, sem espaço pra respirar meus planos vagos e sonhos tolos, que a janela talvez não seja mais o lugar mais indicado e sim, perigoso. Há tanta vida lá fora, e aqui dentro sempre, como uma onda no mar.