Sobre o que levar consigo.

Primeiro, tenha bolsos (dois tá bom)!

Deixe o que não cabe, deixe o que não vai, necessariamente, ser útil. Bolsas e mochilas atrapalham, atrasam e causam dor nas costas. Pegue e guarde, como faria com poucas moedas, aquilo que é essencial, que te faz bem, que você precisa. E, se precisar, peça ajuda. Sempre há conselhos inúteis, mas "aquela" pessoa que a gente acredita, confia e segue (pode até ser você mesmo, tomara!) vai poder te ajudar. Não leve vínculos, nem pessoas (elas devem ser livres, oras).

Leve o que for leve. Leve nos bolsos as pequeninas coisas que vão te fazer seguir, te fazer lembrar (daquilo que você quiser lembrar - alguns querem lembrar de quem eram, outros dos porquês, outros dos sonhos).

Leve com você tudo que quiser, tudo que precisar, você escolhe. Mas escolha! Deixe tudo que não for levar. Mas deixe! Não fique atrasando a ida por causa do apego. E, atente-se ao fato de que, dinheiro seria a última coisa que eu estaria falando em levar.

Arco-íris.

A gente espera tanto a chuva.
Ele chove.
A gente reclama.
A gente espera tanto a felicidade.
Ela chega.
A gente estranha.
A gente espera tanto a vida.
Eu vivo
a gente.

Desperseverança.

Muitas pessoas não entendem o porquê da minha desistência de esforço pra agradá-las. É bem simples e sempre cogito a possibilidade de não ter razão. Eu tento, Deus sabe o quanto. E nada muda. A pessoa não muda, permanece com o mesmo ar de indiferença sobre mim. Então, eu que já não fazia por mim, fazia por ela, desisto. E aí a pessoa reclama de como eu sou, que eu deveria fazer as coisas por mim. Oras, não sou como querem, mas tento. E não tenho essa perseverança inabalável que vejo ensinarem e até praticarem por aí. Tentar agradar cansa. Tentar ser agradável cansa. Mas é aquela história... em alguns lugares eu sou naturalmente aceita e querida. E por que não estou lá? Pois é, a vida há de me convencer sobre essa coisa de escolhas, consequências e destino. No final das contas, toda essa ideia só reforça aquele ensinamento milenar de que, mudar pelos outros nunca vale a pena. Acho, bem achado, que é porque quando é assim, a gente nem consegue mesmo.

"Faz parte do meu show, meu amor".

Minha vida é como um parque de diversões, tem alegria, fome, sustos e até aquele drama parecido com a criança que se perde dos pais.
Eu convido quem eu gosto ou acho que vai gostar, pra que participem dela. Não obrigo ninguém a vir, muito menos a permanecer. Agora, se ficam, me estranharia muito se fosse de má vontade.
Aproveitem minhas pequeninas loucuras, deixem um pouco das suas pra que eu evolua. Mas por favor, não queiram que eu mude minha vida. Há tantas outras que devem lhes agradar por aí, bem como outros espetáculos. Sua cadeira é sempre um lugar de honra, mas gosto mesmo é de dividir o palco. E reforço, minha vida é meu show e não é pra qualquer um. É pra qualquer um que queira, porque quando a gente quer, a gente fica (ou sai) - ou, pelo menos, gosto muito de pensar que a vida, em si, é assim.

Sobre quem é de verdade.



Antes eu tinha muitos amigos.

Muitos deles não eram de verdade.

Mas ao invés de quebrar-se,

como material barato que eram,

quebravam meu coração frágil.




Agora eu tenho bem menos amigos.

E como flores artificiais,

alguns ficam ali, tentando se camuflar.

Flores de verdade se despedaçam.

Flores de verdade se revigoram.

E as flores de plástico continuam iguais

(algumas com poeira, outras disfarçam bem).




Num dia a gente pensa

"tadinha, deixa ela ali".

Noutro a gente decide "jogar fora",

mas aí elas enganam,

com aquele brilho falso, ao sol.




E de repente a chuva lava

(e leva)

quem é tão tão leve,

simplesmente, por não ter raiz.