Reconhecimento.

Quero te agradecer, por velar meu sono, por chorar meu choro, por sorrir meu riso. Mesmo que não possamos dormir sempre juntos, ou que você não produza lágrimas ao mesmo passo que eu, ou que eu exagere em gargalhadas enquanto você, tão somente, brilha os olhos. E quando eu urro de raiva, ou me afogo no travesseiro, sinto sua ausência. E então, logo em seguida, te procuro. Eis que está lá, tentando parecer que não está fazendo nada, tentando não me deixar saber que está se esforçando pra não piorar a situação, por não querer dizer algo errado, poda-se. E isto, é a maior prova de cumplicidade, de companheirismo: quando renunciamos às vontades impulsivas, para o bem de outrem. Eu amo sua alegria incontida, mas ainda não sei vivê-la e só. Sei que seremos sempre melhores, mais fortes, mais. Eu vejo em você um motivo pra melhorar (e meus pais sentiriam inveja disso). E quando já não tenho mais forças pra chorar, seguro sua mão. O choro vem mais fácil, um alívio me consome e, enfim, relaxa minha alma. Obrigada por ser tão eu, quando eu mesma não caibo em mim.

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Juntos poderíamos ter sido mais que somos. Mas a prova de que as coisas acontecem no tempo certo, é que estamos tão distantes quanto duas estrelas da mesma constelação - parecem próximas ao serem vistas por quem está mais longe ainda. Se, por algum momento, você pensou igual a mim, já terá valido qualquer vislumbre, qualquer ideia, qualquer momento em que juntos, fomos mais (que éramos).

Bolhas de Sabão.

(...)Mas a vida é assim, passa rápido. E temos que agir como crianças que brincam com bolhas de sabão, às vezes correr, às vezes ter calma e delicadeza, mas sempre, mesmo sem entender, aproveitar o encantamento ao qual fomos sujeitados. E quando as bolhas estouram, ao invés de tristeza, devemos sentir a mesma alegria, porque elas se foram, mas quisemos isso, quisemos aproveitar a magia que envolve tudo isso.(...)

São Francisco de Assis.

É muito complicado quando conseguimos notar a dimensão das coisas que nos rodeiam e, percebemos que não temos sequer o direito de reclamar de nossas vidas. Não importa o tamanho da dificuldade, há tanta gente, tanta vida, que realmente precisa de ajuda, que realmente não tem as condições básicas de sobrevivência nesse mundo tão difícil, que me sinto ridícula, por estar, há minutos atrás, reclamando do quão as coisas são difíceis. É aí que eu percebo que tenho tudo pra ser uma boa pessoa, pra ser feliz, fazer o bem. E acho que é isso que dói tanto, saber que fazemos tão pouco ou quase nada. Sinto falta da minha certa ingenuidade de jovem, de achar que ia mudar o mundo. Se ia, realmente, ou não, é irrelevante. Porque eu fazia acontecer, eu acreditava. E o pouco que a gente faz, é melhor que nada. O mundo anda tão doente, mas ainda há esperança. Se aprendemos a valorizar tanto um sorriso, ainda tenho fé de que vamos aprender a valorizar uma vida. Quando não houver diferenciação entre um outro animal e nós, quando aprendermos a viver em harmonia com a natureza, quando aceitarmos nossas condições e lidarmos com nossos limites, quando entendermos que fazemos parte de tudo isso e o universo não está aqui para nos servir, aí sim, talvez as coisas passem a fluir de uma maneira nunca vista, e possamos então conhecer o verdadeiro significado de "viver".

Apesar de você, amanhã há de ser outro dia!

Hoje só está sendo um dia difícil e eu acredito que vá passar, assim como todos os outros dias, bons ou ruins, eles sempre passam. Não há o que fazer. Tem dias que nasceram pra ser assim. Não importa o quanto eu chore ou o quanto eu sorria, as coisas serão difíceis da mesma forma, mas tudo no tempo certo. Não adianta sorrir quando se quer chorar e, vice-versa. Isso só nos deixa confuso e abalados. Acho que a melhor coisa é, deixar tudo de lado, conversar com o travesseiro e, dormir. Amanhã será um novo dia. E eu acredito nele, porque é preciso acreditar!

Pavimentação

Estavam todos lá, uns parados e outros passando, ao passar da máquina de pavimentação. E todos pararam e se fizeram semelhantes, ao olhar para o trabalho daquele moço, que tinha os olhos fixos nas rodas da máquina, e os ouvidos protegidos do barulho ensurdecedor. Os que me acompanhavam no ponto de ônibus, se dividiram entre os que deram uns passos para trás e os que aparentemente não se importariam em levar alguns pingos de piche. E o que pensavam todas essas pessoas? Sempre me pergunto o que as pessoas estão pensando, mas hoje foi diferente, eram quase todos aqueles, sobre o mesmo assunto. O mesmo olhar de ângulos diferentes, portanto, olhares diferentes. Nunca saberei. Mas achei poético! Achei... passível de ser registrado. Aquele momento, em que todos olhavam um simples homem operar uma máquina e pensavam se aquele era o melhor horário, se ele ganhava bem para executar a tarefa, se aqueles pingos manchariam as roupas, se a fumaça do asfalto derretido era tóxica, se os carros iriam seguir o fluxo normalmente, se o ônibus encostaria ali, o quanto o barulho era irritante, o quanto o fato de estar acontecendo aquilo era irritante, qual a reação das outras pessoas, o que eles estavam pensando... Se eu soubesse pintar ou desenhar, pintaria um quadro daquele momento, mas as palavras pintam por mim, sob a imaginação de cada um.