Zoom

Há tamanha sobriedade pairando sobre meus dias, que fica difícil enxergar as coisas com os mesmos olhos turvos, com as mesmas lentes sujas e embaçadas. As coisas estão longe de ser claras, mas é como se de um marrom escuro, tivessem se tornado bege. Eu tenho muito medo. Tenho muita esperança também. E essas duas coisas me fazem sair do chão e viver numa realidade quase que paralela, de tanta fantasia e expectativa. Sim, me condeno por isso, mas também me absolvo, é meio difícil decidir por si só, quando se tem que decidir pelos outros. É aquela velha história de ponto de vista: quanto mais longe, maior a noção do que acontece; quanto mais perto, maior a noção dos detalhes. De longe, eu vejo toda reação, relação, relatividade; de perto, eu vejo toda necessidade, em tons vivos de loucura. O amadurecimento é confuso, porque parecemos estar chegando no topo da montanha, mas então, percebemos que era apenas um pequeno formigueiro. A perspectiva é outra; os conceitos são substituídos; a fé no desconhecido, reforçada pelo que vivemos, é a única coisa que se renova cotidianamente. Eu "vou indo", mesmo sem saber se "vou chegando".