Carta para o Francisco,


Hoje é a última noite em que você passará dentro da minha barriga, apertadinho, quentinho e extremamente seguro. Então, decidi vir aqui contar pra você algumas coisas, conversar com você e registrar, pra que quando possível, você leia e sinta o quanto já era importante pra mim, mesmo antes de nascer. Afinal, o nascimento é o momento em que você deixará de ser só meu e de Deus e passará a ser do mundo também (do papai, dos vovôs, das bisas, dos dindos, dos tios, primos, etc). Confesso que isso me dá um pouco de medo. Porque não há com o que eu me preocupe mais que com a sua felicidade, integridade, segurança, saúde. Dói meu peito de pensar em qualquer mal que possa te ocorrer. Filho, você é tudo aquilo que eu sonhei. Eu ainda não sei como você vai ser exatamente, nos detalhes, aliás, não me preocupo com isso, porque eu sinto, desde muito tempo, que você será um ótimo filho, que terei sempre orgulho de ti, que você será sempre a maior alegria da minha vida. Me preocupo em não ser a mãe perfeita pra você, mas confio no amor que me domina desde o dia em que descobri que você já existia dentro de mim. Dizem que quando você sair da minha barriga, entrará no coração pra nunca mais sair. Filho, você já mora no meu coração e domina meus pensamentos. Não existo mais sem você. E quando digo isso, penso em tudo que pode dar errado. Então eu respiro fundo e, mais uma vez, confio. Já que não foi uma gravidez fácil. Eu tive que amadurecer uns 9 anos em 9 meses. Eu continuo mimada e um pouco egoísta sim, mas o espaço pras coisas ruins foi tão diminuído, que eu posso dizer com certeza, que você fez de mim uma pessoa melhor. Eu senti culpa, por estar trazendo a esse mundo tão complicado, mais alguém pra sofrer as dificuldades da vida. Eu senti culpa por não ter preparado o melhor ambiente, por não ter nenhum tipo de estabilidade pra sua chegada, nem financeira, nem psicológica. Mas assim como você cresceu dentro de mim, dia após dia, se alimentando de suco de laranja, arroz, feijão, leite condensado e chips (dentre outras milhares de coisas saudáveis e algumas porcarias), você também se alimentou de tudo que é bom em mim. E talvez essas coisas boas tenham me faltado aqui fora, como paciência, alegria, até mesmo amor. Mas isso não importa, porque eu sei que você teve tudo isso, mesmo quando eu me descabelava de tanto chorar, você já foi maduro o suficiente pra me entender. E não acho que qualquer outra pessoa entenda isso, aliás, acho que vão dizer que tudo que acontecer de errado com você é culpa minha. Mas a nossa relação é de tanta cura, tanta confiança, de tanta força, que acho difícil você não ser, no mínimo, maravilhosamente bom. Eu tive medo filho, muito medo. Medo de não estar pronta pro que eu sempre sonhei: ser mãe. Mas é por isso que os filhos dos humanos demoram esse tempão pra nascer, porque é necessário muito aperfeiçoamento, muito aprendizado. Aprendizado esse bem doloroso e dolorido. Nunca tive um corpo dentro dos padrões de beleza aqui de fora, mas graças a Deus, sempre tive um corpo invejável aos olhos do mesmo, com tudo funcionando perfeitamente, completinho. E mesmo orgulhosa de ter saúde suficiente pra te nutrir, filho, eu também me entreguei à vaidade diversas vezes, me sentindo feia (horrorosa), sentindo medo de que seu pai não gostasse mais de mim, ou não me achasse mais bonita. Realmente, as formas ficaram mais distorcidas, meu cabelo caiu e secou, minha pele ficou horrivelmente manchada, mas os meus olhos, filho, esses nunca esconderam a sensação indescritível de ter você dentro de mim, de ter a sorte de ter você. Eu também aprendi, como diria nosso sábio Renato Russo (o qual você já deve conhecer, tanto do outro plano, como desse, por ter ouvido bastante suas músicas): "aprendi a perdoar e a pedir perdão". Sabe filho, ser mãe me ensinou a ser humilde perante Deus (e algumas pessoas), me ensinou que não importa quantos defeitos eu tenha, eu fui agraciada com o maior presente que uma mulher pode ter, sem dúvidas: ser mãe. E isso fez com que eu quisesse merecer isso, reavaliando meus pensamentos, minhas atitudes e, aceitando, que erramos muito e estaremos sempre cometendo novos erros, mas não podemos deixar n u n c a de tentar! São 9 meses de vida dentro de mim. Porque antes eu era mais alegre, mais divertida, mais festeira... e agora eu sou mãe, estou realmente viva. Minha alegria é você, me divirto com os seus chutes e quando você nascer, amanhã, será minha grande festa. É como se todas as outras coisas perdessem o brilho perto da luz mais intensa que posso ter na vida: você. Claro, como eu já disse, sofri bastante durante a gravidez, mas porque eu era muito errada e precisei me ajustar aos moldes maternos, pra esperar você chegar, filho. E ainda assim, tem tanta coisa que preciso aprender, melhorar, perdoar e, em um dia, é impossível que isso aconteça. Por isso, espero que você esteja preparado pra ter a mim, não como melhor mãe do mundo, mas como a melhor mãe que posso ser. Por você eu estou aqui, por você eu continuei um caminho que parecia dar em lugar nenhum. Nós somos uma família agora. Bem bagunçada por sinal, cheia de confusões e problemas, mas você vai ouvir muito, que não há alegria maior pra todos a nossa volta que a sua chegada. Aliás, já estou até com ciúmes, porque as pessoas que antes me amavam, já amam você mais que a mim. E isso é ser mãe, renunciar a qualquer mimo, qualquer luxo, qualquer coisa, mesmo que não seja necessário, que seja exagero, só pra sempre tentar fazer o melhor por você, filho.
No dia em que fiz o exame de gravidez, foi na hora do almoço (não contei ao seu pai pra não criar expectativas) e pensei: se eu não tiver grávida, confesso em pensamento que ficarei triste. E se estiver, minha vida mudará pra sempre e, estou pronta pra isso (Mal sabia o quanto não estava, mas a vida é muito perfeita nesse ponto e se encarrega de nos fazer super mães durante a gravidez). À tardinha, quando vi o resultado, fui no google, ver se era aquilo mesmo. E sim, estava grávida! Sonhei tanto com isso, mas nunca planejei, fui meio relapsa. Achava que seria a gravidez mais linda do mundo. Contei ao seu pai, ao vovô e à vovó (a qual me deu um sermão digno de mãe preocupada, mas logo se acostumou com a ideia). A minha intenção era gravar um vídeo, pra que ficasse eternizado o quanto estávamos felizes (não só seu pai e eu, mas todos nossos amigos e familiares, estes, meio preocupados, porque ao ver deles, seus pais são dois doidos). Mas foi tanta empolgação que cansamos e dormimos, e o vídeo foi sendo deixado pra depois, até que: pronto, você vai nascer amanhã e só o que eu faço é chorar. É, estou chorando, em parte por tristeza, por algumas coisas meio chatas, mas te garanto que é tudo relacionado ao mundo adulto, relacionamentos, expectativas, decepções, etc. Porque, a maior parte do meu choro é por você, divida em alegria: por finalmente ver a lindeza da mamãe, a minha obra prima, meu melhor, e te amamentar, mimar, ninar, cuidar, educar, criar, beijar e abraçar; e dividida em saudade, de ter você aqui dentro de mim, mexendo, incomodando às vezes. Saudade de estar nesse momento tão mágico (e louco) que é a gravidez. Agora a mamãe está deixando de ser criança e esse processo será consumado amanhã. Agora os mimos serão pra você, os carinhos também. Confesso que mesmo sendo meio azeda, vou sentir falta de passarem a mão na minha barriga com tanto cuidado. Agora a mamãe não vai mais ser cuidada, terei que cuidar de você. Os doces da sua madrinha e as regalias do seu padrinho, acho que serão minhas maiores saudades dos outros, da gravidez. Filho, eu queria te dizer que o mundo aqui fora é perfeito, mas não é. Tanto que sei o quanto você está bem aí dentro, mesmo com tanta loucura da sua mãe passando pra você. Mas apesar de não ser perfeito, ele é bom (É bão, Sebastião - acho que você vai gostar dessa música). Tem gente ruim, coisas ruins, fome, guerra, morte. Mas também tem luz, vida, música, arte, natureza - e animais maravilhosos, que alegram qualquer dia triste. Então, já que a gente tem que passar por aqui mesmo, espero poder ser sua companheira e guia, nessa nova jornada que será a vida aqui fora. Estou com medo de novo filho, medo de não poder estar com você em todos os momentos, medo de morrer e deixar você à mercê do mundo. Mas como você veio a mim na hora exatamente certa, sei que estarei com você enquanto você precisar de mim. Te amo com todas as forças e, sinto muito por não ter feito exercícios o suficiente pra que você nascesse de parto normal, afinal, queria te amamentar logo de início e, queria ter aquele momento mágico, sofrido, juntos. Mas nosso momento mágico será quando a gente se olhar pela primeira vez. E, acredite em mim filho, você nunca terá uma pessoa nessa vida que te ame mais que eu. E os próximos anos serão os melhores da nossa vida. Certamente os da sua, acredite: infância é o que há de bom nessa vida e farei de tudo pra que a sua seja o máximo! Então filho, que esse Deus que acredito tanto, que deu você pra eu cuidar, que esse mesmo Deus nos proteja; a você, porque eu te amo mais que tudo; a mim, porque eu preciso cuidar de você até você ser forte o suficiente pra se cuidar sozinho. Mais uma vez, te amo com todo amor que eu já fui capaz de sentir. E até que a adolescência nos separe (brincadeira), espero que eu consiga te manter perto de mim enquanto eu estiver nessa vida, porque nossas almas serão vinculadas por toda a eternidade, filho.

Com MUITA emoção, muito carinho e muito AMOR (sentimento que eu só aprendi o verdadeiro significado com você), estou te esperando aqui fora, filho!

Mamãe.

Alegria enquadrada.

Percebi que a maioria das fotos em que estou sorrindo ou fazendo careta, são intencionais. Mas as fotos em que eu estou dando gargalhadas, essas sim, são naturais. Não acho que seja meu melhor ângulo, ou que seja, de alguma forma, sexy. Comecei a dar mais valor pra verdade, que pra aparência. Eu quero me lembrar das risadas, dos momentos, da sensação de alegria. Cheguei na fase em que aprendemos que um bom momento vale mais que uma boa foto. Fotos são pra lembrar dos momentos, não o contrário. Estou tranquilamente feliz, assim, seguindo a correnteza, só por um tempo, pra ver onde é que vamos parar.

Meio-dia, de meias.

Quem se preocupa
liga antes do meio-dia
De quem é a culpa
quando o amor esfria?
Quem se pré-ocupa
não espera o outro dia
Pra vencer a disputa
entre o choro e a alegria.

Às vezes o que era um pensamento triste, vem como poesia... sem prosa, sem conversa, só inspiração.

Há tempos, há tanto... tempo!

Há tantos pensamentos soltos
Há saltos que são altos demais
Assaltos que roubam da mente
Tudo que tenho envolto, à volta,
ideias e ideais.

Há tanta vida pra sentir
Há tanto céu pra voar
E vivemos sonhando no chão
vendo a vida repetir
o que não queremos nem lembrar.

Há tempos, atentos, tentamos
pensar
Contentes, com dentes à mostra
lutar
Pela vida que nos descontenta
viver
com o medo do dia em que vamos
morrer.

(Às vezes fico contente com o pouco que sou).