A corda.

No começo, "é só uma fase". Depois, "é só uma longa fase". Então, quando as pessoas cansam, passa a ser "falta de vergonha e de vontade". Quando as coisas mudam, foi porque a pessoa "levantou" (literalmente) "e andou". Cada pessoa reage de uma forma à depressão, mas todas tem um limite de tempo para desistir de acreditar. Acho que é por isso que as pessoas "de fora" se vão com o tempo, ou porque a vida delas é boa demais pra lidar com a depressão alheia, ou porque a vida delas é deprimente demais, para lidar com a depressão alheia. Eu continuo lutando por mim (pra não desistir de tudo que eu quero ser/já fui), e contra mim (pra não acreditar que a única solução é desistir). 

Quando as pessoas desistem, elas "podiam ter pedido ajuda". Quando as pessoas pedem ajuda, elas "deviam parar se sentir pena de si mesmas e ir trabalhar, como todo mundo". E "com tanta gente lutando pela vida, quem tenta se matar é um ridículo, asqueroso, fraco". Como se a pessoa com depressão já não tivesse lutado pela vida, até ali.

Não faltam julgamentos. Falta sensibilidade, falta fé, falta amor... dentro de mim, dentro de nós, dentro daqueles que acham que os possui. Faltam ligações atendidas, faltam abraços, sobram desculpas, mentiras e deboches... ah, como sobram os deboches! Falta um monte de gente que se foi, que não suportou seguir. Falta um monte de gente ir, falta alguém "importante" ir, pra muita gente acreditar que não é fácil ficar, mas também não é fácil partir.

Foram tempos difíceis.

Foram dias difíceis até aqui.
Comecei a organizar algumas fotos pra revelar e, como de costume, me emocionei ao ver uma parcela do passado, ao reavivar algumas lembranças que acabamos guardando bem fechadinhas numa caixa, no fundo da memória.
Quando passamos por momentos difíceis, queremos esquecer tudo aquilo e ficamos torcendo por dias melhores. Então, na primeira oportunidade, enfiamos tudo que temos na cabeça, dentro das caixas mentais e lacramos. Como é muita coisa, ou é muita confusão mesmo, algumas coisas escapam, mas com o passar do tempo conseguimos entulhar tudo lá dentro, em algum lugar escondido.
E, com as fotos, lembrei de tanta coisa boa, que se eu tivesse me atendado a elas, com certeza teria sofrido menos. Mas como saberia? Pois é, não há como saber na hora, por isso o tempo é tão famoso em sabedoria, só ele nos ajuda a organizar as caixas mentais.
Foram dias difíceis, nesses tempos chorei mais lágrimas que em todo resto da minha vida. Mas me lembro de palavras de conforto, de carinho e sabedoria, me dizendo que aquilo ia passar, que eu nem lembraria dos momentos ruins, que eu precisava ter fé. Eis que estou aqui, depois de segurar muitas barras, vencer inúmeras pequenas batalhas (e perder muitas outras), sigo lutando, mas principalmente, acreditando e entendendo, que a vida não para. Ao mesmo tempo que vejo a superação de uma fase de dificuldades e me sinto vitoriosa, continuo em outras dificuldades diferentes, acreditando que no momento certo, vencerei estas para encarar outras. Os problemas nunca terminam, só mudam, porque mudamos também. E é disso que precisamos pra evoluir, não desistir nunca! (Ainda que isso signifique desistir de algo).
Se eu tivesse desistido nas incontáveis vezes em que fraquejei, hoje não saberia da imensurável alegria que os novos tempos me proporcionam. E não é que eu não tenha que ter feito nada, ou não tenha me esforçado, mas muitas vezes não precisamos lutar contra gigantes, cada pessoa tem uma batalha diferente. No meu caso, acho que as batalhas mais difíceis são aquelas em que não luto contra nada nem ninguém, somente luto para não desistir de lutar.
Não sabemos o que as pessoas passaram, mesmo achando que sabemos, aliás, não sabemos o que nós mesmos passamos, porque há um universo dentro de nós, que passamos a vida toda a explorar. E, ao invés de colecionarmos respostas, aprendemos com o autoconhecimento que as dúvidas só nos levam a outras dúvidas. Conhecer a si mesmo, saber das coisas da vida, tudo isso parece fácil, mas lembre-se de como chegamos até aqui. O segredo é acreditar, que não importa como, nem quando, onde ou porquê, tudo sempre passará.