Mais (um) do mesmo.


Mesmo a vida não sendo justa. Mesmo o mundo não sendo acolhedor. Mesmo as noites sendo frias, por dentro. Mesmo as horas passando devagar e os dias rápido demais. Nada mudou. Eu achei que seria tudo alucinantemente novo. Mas a mudança deve ser permanente, ou num descuido, as paredes novas descascam e a gente vê as manchetes de jornal penduradas, gritando notícias que se repetem. E os pulsos começam a sangrar novamente. A janela não abre. O teto gira e desaba. E a cama parece um mar sem fim. Agarro o travesseiro, que absorve cada gota desse mar, que engoli e agora choro. Alguém bate à porta, ou o telefone toca. A criança acorda. Tiro a corda do pescoço. Um sorriso molhado ilumina. As cores mudam de tom. E nisso a mudança recomeça. E mesmo a vida não sendo justa, eu não deixo de ser honesta. E mesmo o mundo não sendo acolhedor, eu suporto a minha dor. E mesmo as noites sendo frias, por dentro, aqueço meu coração com um abraço. E mesmo as horas passando devagar e os dias rápidos demais, eu esqueço o relógio, mas ajusto os ponteiros... sempre em frente!