Crise dos 20 anos.

Estou em crise. Sei que é só mais uma causada por uma mistura de hormônios à flor da pele e acontecimentos familiares "inesperados". Estou cansada também, cansada de mim. Já percebi que posso mudar de lugar, rodar o mundo, mas não serei completa enquanto não me achar dentro de mim. Dentro desse corpo abandonado (por mim). Acredito que seja mais ou menos como arrumar um guarda-roupas, primeiro temos que colocar tudo pra fora, no meu caso as emoções e os pensamentos, depois separamos de acordo com algum critério definido por conveniência ou aleatório mesmo. Sempre há o que descartar, seja decidir que não nos serve mais, ou apenas falar, por pra fora, chorar (se bem que o choro é o primeiro que aparece nessas horas). E rir. Bom, eu sempre rio, ainda que mentalmente, é um sorriso espiritual (digamos assim). Depois, guardamos tudo que nos é útil, que gostamos ou que precisamos guardar porque foi um presente. Isso no caso das roupas, porque tratando de sentimentos e pensamentos, nós nem sempre conseguimos nos livrar de tudo que não queremos, há certas memórias que insistem em atormentar, como traças e baratas. Mas há aquelas que são bem-vindas, doces e nos fazem alegres por alguns instantes, portanto seriam como os sachês perfumados, ou aquelas cartinhas escondidas que guardávamos embaixo das roupas. Há ainda aquilo que nós queremos esconder e guardar de nós mesmos, os desejos secretos, os planos ingênuos, que se assemelham às camisinhas escondidas, um brinco "emprestado" da mãe, ou ainda dinheiro, que queremos esquecer para ficarmos felizes quando encontrarmos num momento conveniente. Bom, o choro cessou. Acredito que a minha arrumação está terminada por hora, lembrando que como sempre tenho dificuldade de manter meu "guarda-roupas" arrumado, volta-e-meia preciso refazer todo o processo. Agradeço pelas palavras, por poder me comunicar, comigo mesma. Pois se com tantas palavras já é difícil me compreender, sem palavras seria praticamente impossível, já que o brilho nos olhos está cada vez mais fraco e o "sorriso" do olhar não aparece mais com tanta frequência. É, acho que estou velha demais, tão velha e sem experiência, sem maturidade, sem vida. Estou me matando aos poucos, com essa teimosa e persistente idéia de ser quem sou. Se bem que isso eu nem sei mais, nem menos. Nem sei.