Quero ser grande?

Não assisto mais futebol, nem sei mais das músicas do rádio. Os jogos que conheço são de tabuleiro. Também desconheço as últimas notícias mundiais e as últimas celebridades. Não faço novas amizades. Não conheço novos lugares. Não tenho roupas novas. Os tênis e chinelos são os mesmos. Pelo menos eu ainda gosto de pipoca doce, embora demore tanto pra fazê-las que, geralmente, elas ficam murchas. Sinto saudade de tanta coisa, como quando eu esperava meus pais chegarem e ia correndo lavar a louça. Ou quando passava chamar minha melhor amiga pra ir à padaria comigo. Eu estou recorrendo frequentemente às coisas da minha infância, estou notando um leve exagero nessa frequência. E talvez, seja porque ser grande é tão difícil. Crescer é fácil, rápido, mas não indolor. Agora, ser grande requer tempo, paciência, perspicácia. Pra ser grande é preciso entender a dimensão das coisas, entender, principalmente, a diferença entre tamanho e importância. Pra ser grande é preciso muito. Mas não ser muito, é preciso ser na medida certa. E eu ainda continuo a procurar quem eu sou, o quanto sou, quem quero ser.