Pavimentação

Estavam todos lá, uns parados e outros passando, ao passar da máquina de pavimentação. E todos pararam e se fizeram semelhantes, ao olhar para o trabalho daquele moço, que tinha os olhos fixos nas rodas da máquina, e os ouvidos protegidos do barulho ensurdecedor. Os que me acompanhavam no ponto de ônibus, se dividiram entre os que deram uns passos para trás e os que aparentemente não se importariam em levar alguns pingos de piche. E o que pensavam todas essas pessoas? Sempre me pergunto o que as pessoas estão pensando, mas hoje foi diferente, eram quase todos aqueles, sobre o mesmo assunto. O mesmo olhar de ângulos diferentes, portanto, olhares diferentes. Nunca saberei. Mas achei poético! Achei... passível de ser registrado. Aquele momento, em que todos olhavam um simples homem operar uma máquina e pensavam se aquele era o melhor horário, se ele ganhava bem para executar a tarefa, se aqueles pingos manchariam as roupas, se a fumaça do asfalto derretido era tóxica, se os carros iriam seguir o fluxo normalmente, se o ônibus encostaria ali, o quanto o barulho era irritante, o quanto o fato de estar acontecendo aquilo era irritante, qual a reação das outras pessoas, o que eles estavam pensando... Se eu soubesse pintar ou desenhar, pintaria um quadro daquele momento, mas as palavras pintam por mim, sob a imaginação de cada um.