Sobre o tempo

É frio. Sou frio. Faz frio. Mas não é desse tempo que venho vos falar. Quando as horas me dizem algo (e sim, elas dizem muito)eu penso que estou enlouquecendo, então recordo-me que assim já sou. Pois bem, sendo essencialmente maluca torno-me livre para pensar sobre coisas malucas. E realizá-las, mas isso são outros minutos. Se as horas fossem reais, eu não teria tempo pra nada, afinal já nascemos com o tempo contado e, a cada minuto nos é diminuído uma certa quantia de tempo(real), quantia a qual varia de acordo com a instância, com o ato e com a intenção. Mas o tempo não é real. Tempo é dinheiro, real ou não. Logo, posso me perder nas incontáveis horas, minutos, milésimos de segundos irreais que passo ao longe. Não sei bem onde. Há muitos lugares pra onde ir, mas sempre mando meu espírito primeiro, pois assim guardo melhor as experiências do lugar (sem que me cobrem nada, além de lembranças) já que meu corpo tem tempo e local contados. Todo o tempo eu passo comigo, muito raras as vezes que passei sem mim, tão raras que não me recordo, mas sei que existiram. E quanto as horas? Olho para elas, sempre simétricas, sempre ansiosas a dizer-me algo, que por muitas vezes finjo não entender. É como se eu soubesse da tamanha importância daquilo, daquela velha novidade e já não quisesse mais me importar com nada, nem com as coisas sem importância, que já seria não me importar. E nesse porto desimportado, nesses mares e bares, passam as horas sem que você as veja. E elas chegam a dançar para que alguém (além de mim) as note, são minhas amigas, logo as quero bem...e as faço alguma companhia. Em dias de chuva dançam suaves, como algo entorpecedor, sonífero. Em dias ensolarados, contam piadas e atiçam nossa ansiedade. Em dias assim, comuns...elas apenas ficam em silêncio, ao meu lado...esperando alguma outra hora em que você chegue e mude os dias, os tempos, os reais e irreais. Pois assim será o fim das horas tristes que passam longe de ti.